Do Gerador ao Palanque, A Nova Fábrica de Votos.

Uma promessa antiga vira o prêmio da vez na política de Correntina. Enquanto o povo espera pela energia, um vídeo antecipado acende o pavio para uma explosão na Câmara, revelando uma disputa faminta pelos louros de uma obra que ainda nem saiu do papel.

Há anos, talvez décadas, os moradores das comunidades de Capão do Modesto, Caiçara, Sussuarana e Alegre ouvem a mesma música em época de eleição: a promessa da energia elétrica. A pauta, surrada de tão usada, já serviu de palanque para inúmeros candidatos. Nos últimos tempos, a bandeira vinha sendo empunhada pela vereadora Albanice Magalhães (União) e também por Nice do Rosário (União), que se apresentavam como as Salvadoras da vez.

Tudo corria na costumeira lentidão do poder público, até que o cenário pegou fogo. Dois dias antes da última sessão na Câmara, um vídeo de Michael Delgado, com produção cinematográfica, inundou as redes sociais. Nele, Delgado surge nos povoados, ao lado de um engenheiro do governo, como o herói que chegou para destravar a obra. A resposta veio a galope. Na tribuna, com a voz embargada pela fúria, a vereadora Albanice abriu sua pasta, expôs documentos e acusou Delgado de ser um “mentiroso” e “oportunista”, tentando roubar os créditos de um trabalho que, segundo ela, já dura mais de cinco anos.

A vereadora exibiu números, protocolos e datas. Falou em R$ 1,2 milhão para Caiçara, R$ 1,2 milhão para Sussuarana, e a bagatela de R$ 1,8 milhão para Capão do Modesto e Tamboril. A mensagem era clara:

as obras são nossas, acompanhadas desde 2017 e concluídas.

Mas Michael Delgado não se calou. Nas redes sociais, ele revidou com a força de um coice. Chamou a vereadora de “oportunista e vereadora de ofício” e afirmou que ela “nunca resolveu nada”, vivendo de “pegar carona nas obras de todo governo que passa por Correntina”. Delgado ironizou:

ela pensa que virou governadora ou secretaria de Estado para ter obra no nome dela.

Afinal, a luz ainda não chegou. Mas a briga para saber quem vai levar os créditos por acender o interruptor mostra que o interesse real pode estar longe do bem-estar dos moradores do Capão do Modesto, Alegre, Caiçara e Sussuarana.

O que não te contaram

A política é um jogo de xadrez, e o vídeo de Michael Delgado foi um movimento friamente calculado. Ao se antecipar, ele tentou pautar a conversa, se posicionando não como quem começou a luta, mas como quem deu o golpe de misericórdia nos “problemas” que a impediam. A presença do tal “engenheiro do estado” foi a cereja do bolo, uma tentativa de vestir sua ação com o manto da oficialidade do governo, passando a imagem de que tem mais força que os políticos locais.

O discurso da Vereadora também beira a prepotência. Ela de fato apresentou protocolos e valores, agindo como a “mãe da obra”. Mas, convenhamos, é função do vereador fiscalizar e acompanhar, não ser o dono da energia. Ao declarar que a obra é dela, ela não está apenas exagerando, está mercantilizando a própria função, como se os R$ 4 milhões investidos fossem um favor pessoal, e não um direito conquistado com dinheiro público e imposto.

A questão crucial é a cronologia. Se o trabalho já vinha sendo feito, por que a necessidade de uma intervenção agora? A resposta, caro leitor, parece ter mais a ver com o calendário eleitoral do que com o cronograma da obra. A energia que ainda não ilumina as casas do Capão e demais comunidades já está sendo usada para iluminar palanques futuros.

Reação pública

Os Moradores das Comunidades, calejados por anos de promessas vazias, assistem a essa briga com um misto de desconfiança e enfado. “Todo ano de eleição aparece um pai pra essa energia, mas a criança nunca nasce”, A guerra de narrativas expõe o que há de mais podre na política: a vaidade e a busca pelo voto se sobrepõem à necessidade real da população. Para quem continua acendendo o candeeiro toda noite, essa disputa por holofotes não é apenas um circo, é um insulto.

E agora?

A situação criou um “tudo ou nada” para os envolvidos. Michael Delgado, que se apresentou como o solucionador, tem agora a obrigação de entregar o resultado. Se a obra não avançar rapidamente, sua imagem de articulador cairá por terra, e ele será lembrado como o autor de um espetáculo. A vereadora Albanice, por sua vez, precisa provar que seu trabalho documentado não era apenas um acúmulo de papéis, mas o caminho real para a solução.

Enquanto os “pais” da obra se engalfinham publicamente, a Coelba e o Governo do Estado têm o dever de esclarecer: o projeto estava travado? Quem é o interlocutor oficial? O risco é que, em meio a tanto ego e disputa política, a obra, que deveria ser uma solução para o povo, se transforme em mais um esqueleto abandonado, vítima da vaidade dos poderosos.

🪓 Coluna “Doa a Quem Doer” – Portal Correntina. Porque a verdade não tem lado.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.