O Oeste Baiano desponta como um dos mais promissores polos agropecuários do país, mas, na prática, a maior parte de sua produção ainda está nas mãos de pequenos proprietários familiares – tanto criadores de gado quanto agricultores de milho, feijão e hortaliças. 

Essa resistência em adotar inovações não se deve apenas a um apego cultural: envolve limitações financeiras, assistência técnica insuficiente, infraestrutura precária e prioridades imediatas de subsistência. 

O resultado é produtividade estagnada, vulnerabilidade a secas e inundações, degradação do solo e perda de competitividade.

A seguir, aprofundamos nessa realidade, revelando por que muitos pequenos agricultores e pecuaristas preferem métodos tradicionais e como isso afeta diretamente a renda familiar, a sustentabilidade do território e o futuro do campo na região.

No Oeste Baiano, encontramos duas realidades muito próximas:

  • Criadores de bovinos (corte e leite), cuja renda depende de pastagem e manejo sanitário;
  • Agricultores familiares, que cultivam como milho, feijão, mandioca e hortaliças para consumo próprio e mercados locais.

Ambos os grupos trabalham em propriedades entre 15 e 150 hectares, muitas vezes herdadas de pais para filhos, carregando séculos de saberes. 

No entanto, quando o assunto é tecnologia — drones para mapeamento de lavouras, sensores de umidade no solo, apps de gestão de irrigação — a adoção é tímida: estima‑se que mais de 70% nunca utilizaram sequer um sensor ou aplicativo básico.

Entre criadores e agricultores, quatro obstáculos principais travam a modernização:

Limitação Financeira. Equipamentos e softwares podem custar de R$ 1.000 a R$ 15.000. 

Mesmo linhas de microcrédito, quando existentes, impõem garantias e juros que pequenas propriedades não suportam. Agricultores que investem em irrigação por gotejamento ou tratores compactos esbarram na burocracia e nos custos iniciais.

Assistência Técnica Insuficiente. Técnicos de extensão rural, vinculados ao sindicato rural ou à Embrapa, visitam esporadicamente as propriedades. Sem demonstrações práticas e acompanhamento contínuo, o produtor teme errar: calibrar sensores, operar drones ou interpretar mapas de umidade exige aprendizado que raramente recebe.

Infraestrutura e Conectividade. Muitas fazendas estão em áreas sem cobertura de celular ou internet. 

Aplicativos de gestão — por exemplo, para controlar cronogramas de irrigação em hortaliças — acabam sem utilidade, assim como os sistemas que transmitem dados meteorológicos em tempo real para criadores.

Prioridades de Sobrevivência. Manter gado vivo e garantir a colheita para o consumo familiar são urgências imediatas. Inovações que prometem ganhos no médio prazo são percebidas como luxos. 

O agricultor familiar, muitas vezes, substitui o valor investido em tecnologia por insumos básicos: fertilizantes, sementes e pagamento de mão de obra eventual.

Produtividade e Renda

  • Criadores de gado perdem oportunidades de otimizar a relação animal/hectare, resultando em custos 10–15% maiores de manejo.
  • Agricultores familiares enfrentam perdas de safra de até 20% em anos de seca, sem sensores de solo que detectem rapidamente falta de umidade ou deficiências nutricionais.

Degradação Ambiental

Sem monitoramento de rotação de pastagens ou sistemas de plantio direto, o solo sofre erosão. 

Agricultores que não adotam práticas de plantio em contorno veem sua terra perder fertilidade mais rápido, exigindo mais insumos químicos e agravando a dependência financeira.

Vulnerabilidade Climática

Em situações de estiagem ou chuvas intensas, a ausência de alerta precoce e de mapas de risco deixa criadores e agricultores desprevenidos. 

Pastagens murcham sem opção de suplementação planejada e hortaliças são tomadas por pragas que se proliferam em condições adversas.

Competitividade e Juventude

Grandes fazendas, equipadas com satélites e drones, conseguem reduzir custos e negociar melhores preços. 

Para os pequenos, a falta de inovação faz com que o atravessador seja a única porta de venda, forçando margens baixíssimas. 

Jovens veem poucas perspectivas e migram para centros urbanos, acelerando o envelhecimento do campo.

Mesmo com obstáculos, já há exemplos de pequenos agricultores e criadores que incorporaram tecnologia:

  • Um grupo de produtores de banana constroem um sistema de captação solar para alimentar sensores de solo, reduzindo em 25% o uso de água.
  • Associação de criadores de leite conseguem compartilhar um drone comunitário que mapeia pastagens e identifica áreas de baixa produtividade.

Essas iniciativas mostram que, com apoio certo, é possível romper o ciclo de exclusão.

Linhas de Crédito Dedicadas

Programas de microfinanciamento com juros reduzidos e prazos de carência são fundamentais. Parcerias entre bancos públicos e cooperativas podem criar produtos específicos para irrigação e monitoramento de pastagens.

Assistência Técnica Intensiva

Fortalecer acordos entre sindicato rural, Embrapa e universidades locais para que técnicos façam visitas mensais, ofereçam treinamentos práticos e acompanhem resultados.

Infraestrutura Digital Rural

Investimentos em internet via rádio e redes mesh nas estradas rurais. Parcerias público‑privadas podem levar sinal 4G a áreas remotas, abrindo a porta para apps de gestão e sistemas de alerta meteorológico.

Tecnologias de Baixo Custo

  • Sensores solares de umidade que armazenam dados e sincronizam quando houver sinal.
  • Apps offline, capazes de funcionar sem conexão e enviar relatórios em lote.
  • Cooperativas de máquinas, onde tratores compactos, drones e irrigadores são compartilhados conforme demanda.

Educação e Cultura de Inovação

Incluir módulos sobre agricultura digital em cursos do sindicato rural e em feiras agropecuárias locais. 

Mostrar, através de “dias de campo”, como cada tecnologia se traduz em economia real: menos mão de obra, menos insumos e mais produtividade.

O futuro do campo no Oeste Baiano depende de unir a tradição familiar à inovação necessária. 

Pequenos criadores e agricultores familiares têm tudo para prosperar: solo fértil, clima favorável e comunidades unidas. Mas, sem tecnologia, continuam vulneráveis a crises e excluídos de mercados que exigem qualidade e rastreabilidade.

O primeiro passo é reconhecer que, para sobreviver e crescer, a propriedade familiar precisa dar espaço à inovação. 

Buscar linhas de crédito específicas, participar de treinamentos e integrar-se a cooperativas de gestão de equipamentos são decisões que determinam não só a renda, mas a continuidade das gerações no campo.

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