Secretarias de Esporte superam cabide de empregos com o Plano Municipal de Esportes

A gestão do esporte em municípios do oeste baiano muitas vezes reflete uma realidade de improviso. 

Enquanto o futsal e o futebol ganham força por meio de associações locais, outras modalidades, como atletismo, vôlei ou até mesmo esportes adaptados, ficam à margem por falta de estratégia. 

O resultado é um cenário fragilizado: secretarias operam sem metas claras, priorizando eventos isolados em vez de um plano municipal de esporte que integre todas as práticas esportivas.

Esse desequilíbrio reforça a ideia de que o esporte é apenas lazer, não uma política pública capaz de gerar saúde, inclusão e desenvolvimento econômico.

Nessa matéria, vamos explorar como a ausência de planejamento estratégico prejudica o potencial esportivo nos municípios e por que é urgente criar um plano que valorize desde as associações de futsal até modalidades menos populares.

Em muitas cidades do interior baiano, as secretarias de esporte funcionam como “departamentos de eventos”, focadas em organizar campeonatos de futebol ou festivais esporádicos. 

Essas ações, embora importantes, não fazem parte de um projeto maior. Não há diagnóstico das necessidades locais, nem integração entre as diferentes modalidades além das secretarias servirem apenas de cabide de empregos.

Por exemplo:

  • Futsal e futebol são impulsionados por associações independentes, que conseguem se auto financiar. Porém, essas iniciativas raramente dialogam com o poder público.
  • Atletismo, ginástica ou esportes adaptados não recebem atenção, mesmo que existam talentos na comunidade.
  • Projetos sociais, como escolinhas de iniciação esportiva, são criados e abandonados conforme a troca de gestores.

Essa falta de coordenação gera desperdício de recursos e desigualdade de oportunidades. Enquanto o futsal prospera por esforço próprio, outras modalidades desaparecem, e os espaços públicos (como pistas de atletismo ou quadras) são subutilizados.

Não é incomum encontrar associações de futsal em cidades pequenas que organizam a prática esportiva, captam recursos via taxas de inscrição e até patrocínios de comércios locais. 

Esses grupos demonstram que é possível gerir o esporte de forma organizada, mesmo sem apoio governamental.

O problema é que essas associações atuam de forma isolada. Sem integração com a secretaria de esporte, não há:

  • Troca de conhecimento entre modalidades (ex.: usar a estrutura do futsal para promover o volei);
  • Compartilhamento de infraestrutura (quadras usadas apenas para treinos noturnos poderiam abrigar oficinas diurnas de outras práticas);
  • Inclusão de públicos diversificados (idosos, pessoas com deficiência, mulheres).

Um plano municipal de esporte poderia transformar essas associações em parceiras estratégicas, formalizando parcerias e garantindo que seu sucesso beneficie toda a comunidade de forma bem mais eficiente.

Quadras esportivas em cidades pequenas geralmente são espaços mal conservados, com redes de vôlei rasgadas e traves enferrujadas. A prioridade costuma ser reformar as quadras e campos apenas quando existem campeonatos ou em anos de eleição.

Para mudar essa lógica, é essencial:

  1. Mapear os espaços existentes: Quantas quadras têm iluminação adequada? 
  2. Criar horários compartilhados: Uma mesma quadra pode ser usada para futsal pela manhã, vôlei à tarde e alongamento para idosos à noite.
  3. Adaptar espaços subutilizados: Praças podem ganhar circuitos de exercícios; escolas podem abrir seus pátios nos fins de semana.

Não se trata apenas de gastar mais, mas de otimizar o que já existe. Um ginásio fechado fora de eventos é um desperdício de potencial.

Leia também: Impacto do futsal na Bacia do Rio Corrente: A Transformação que Começa na Quadra

A falta de profissionais qualificados é um obstáculo para expandir o esporte além do futebol. Em muitos casos, os próprios voluntários das associações de futsal assumem o papel de treinadores, mas não têm conhecimento para ensinar outras práticas.

Soluções práticas:

  • Cursos gratuitos para professores e líderes comunitários, com foco em gestão esportiva, regras básicas de modalidades variadas e primeiros socorros;
  • Parcerias com universidades: Alunos de educação física poderiam estagiar nas secretarias, trazendo novas ideias;
  • Workshops com atletas estaduais: Um corredor de atletismo ou um jogador de basquete aposentado pode inspirar jovens.

A formação contínua garante que o esporte não dependa apenas do entusiasmo de voluntários, mas de uma rede estruturada.

Muitas secretarias concentram seus esforços em um ou dois grandes eventos por ano, como campeonatos de futebol. Porém, essas ações não se conectam com outras iniciativas, deixando a população desengajada nos meses restantes.

Um calendário esportivo municipal resolveria esse problema ao:

  • Distribuir atividades ao longo do ano: Maratonas em abril, torneios de vôlei em junho, oficinas de atletismo em setembro;
  • Integrar diferentes públicos: Eventos intergeracionais (ex.: avós e netos em corridas de revezamento) ou inclusivos (ex.: paraolimpíadas municipais);
  • Vincular esporte a outras políticas: Um torneio de futsal pode ser combinado com feiras de saúde ou ações de empreendedorismo.

Assim, o esporte se torna parte do cotidiano, não uma exceção.

Um plano estratégico não precisa ser um documento de 100 páginas. Pode começar com metas simples e evolutivas:

Passo 1: Diagnóstico Participativo

  • Envolver associações, escolas, conselhos de saúde, times e moradores em reuniões para mapear demandas.
  • Perguntas-chave: “Quais esportes já existem aqui?” “Quem está sendo deixado de fora?”

Passo 2: Priorizar Ações Conectadas

  • Exemplo: Se a cidade tem uma associação de futsal forte, criar uma liga municipal que destine parte dos recursos para desenvolver o atletismo.

Passo 3: Transparência e Monitoramento

  • Divulgar relatórios semestrais nas redes sociais da prefeitura, mostrando quantas pessoas foram atendidas por projeto e quais espaços foram revitalizados.

Secretarias de esporte em municípios como os nossos da Bacia do Rio Corrente precisam deixar de ser “balcões de eventos” e “Cabides de emprego” para se tornarem gestoras de oportunidades.

Um plano municipal não é burocracia: é a garantia de que o futsal, o atletismo, o volei e até o xadrez tenham espaço para crescer.

Benefícios de um planejamento estratégico:

  • Redução de custos: Evita retrabalho e desperdício com projetos desconexos;
  • Inclusão social: Atende crianças, idosos, pessoas com deficiência e mulheres;
  • Descoberta de talentos: Uma pista de atletismo bem cuidada pode revelar um futuro campeão olímpico.

A força das associações de futsal já mostra que a comunidade tem vontade de participar. Cabe ao poder público ouvir, organizar e ampliar esse movimento. O esporte não é só jogo: é saúde, educação e cidadania.

Leia também: Impacto do futsal na Bacia do Rio Corrente: A Transformação que Começa na Quadra

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