Além das quatro linhas: o que não te contaram sobre o Campeonato de Futsal de Coribe

O Campeonato de Futsal Coribense 2025 já tem data marcada: no dia 12 de abril, a bola rola na Praça da Juventude para uma edição que promete muito para esse ano. Todavia, a competição carrega uma significância que vai muito além do que acontece dentro do retângulo de concreto. Sendo assim, nós do No Fluxo listamos para você alguns aspectos importantes que passam despercebidos.

Ano após ano, o campeonato lota as quadras em todos os dias de jogo, sendo o povo coribense consagrado como o “povo que gosta de futebol”. Além do fato de ser um enorme entretenimento para o fim de semana de tantos – sejam eles acompanhantes de futebol ou não -, o evento impulsiona a economia local.

Pense comigo: com o aumento da circulação de pessoas nas ruas, setores como alimentação, lazer e comércio são diretamente beneficiados. E é aí que entram os vendedores de alimentos e bebidas, donos de brinquedos e proprietários de lanchonetes, bares e pizzarias, que ganham outras oportunidades de vender seus produtos.

Com a importante adesão do regulamento a levar uma rodada para cada distrito, Ranchinho, Descoberto, Vila Nova e Colônia do Formoso receberão dois dias de jogos em suas casas, descentralizando os benefícios e expandindo o impacto econômico para além da sede.

Eldion Carvalho, “Jhon do pula-pula”, que é microempreendedor do ramo de brinquedos infláveis, trampolins e algodões-doces, nos contou sobre a relevância do campeonato em seu negócio:

“Atuo em eventos festivos em Coribe e região. Durante o Campeonato de Futsal Coribense, tenho a oportunidade de alavancar minhas vendas, o que é muito importante para mim. Também levo meus brinquedos para os quatro distritos, podendo, além de trabalhar, acompanhar os jogos e comercializar meus produtos.”

No setor de alimentos, Klaudya Rosa, que vende churrasco, também se dá bem com os dias de jogo, principalmente no Ranchinho, onde reside:

“Quando tem jogo no Ranchinho, o ginásio lota. Consigo vender até o dobro do que costumo. Não sou apenas eu que tenho lucro, mas também os outros comerciantes. Além do mais, na minha visão, o futebol é muito significativo na construção e formação do caráter de crianças e adolescentes em nossa comunidade.”

Há quem diga que são apenas vinte e dois – nesse caso, dez – homens correndo atrás de uma bola. Entretanto, apesar de o povo brasileiro, no geral, sofrer com inúmeros problemas, o futebol sempre foi uma válvula de escape para as vulnerabilidades e “perrengues” que assolam a população.

Recortando para o nosso cenário, a grande maioria dos atletas que jogarão o campeonato tem outras ocupações profissionais, sendo o futebol apenas uma opção de lazer e diversão para as horas vagas.

E o que isso importa? Pense que em uma comunidade em que boa parte não tem condições financeiras de arcar com a psicoterapia e muita resistência (“isso aí é frescura”) ao tratamento, o futebol se torna uma fuga dos dramas inerentes à vida cotidiana.

“O ideal seria que procurássemos a terapia. Contudo, essa não é a realidade da maioria da população, e sabemos que vários fatores colaboram para essa realidade, entre eles as questões financeiras e o preconceito que ainda existe no que diz respeito ao processo terapêutico. Praticar esportes regularmente contribui para o bem-estar e a qualidade de vida, tem impactos positivos no cérebro, auxiliando na prevenção e no tratamento de problemas como ansiedade, depressão, estresse e baixa autoestima.”

– Ertha Hingre, psicóloga

Leia também: Impacto do Futsal na Bacia do Rio Corrente: a transformação que começa na quadra

Enquanto alguns encontram no futebol um refúgio saudável, outros, infelizmente, apelam para o uso de substâncias ilícitas para aliviarem as mazelas que a vida lhes impõe. Posto isso, a realização do campeonato surge como um enorme aliado na luta contra as drogas, já que o período de treinos exige que o atleta deixe de escanteio os vícios que afetam o alto desempenho de qualquer praticante de esporte.

Contudo, ações sociais e políticas públicas são fundamentais para que os jogadores continuem sóbrios não só durante, mas, principalmente, após o campeonato – como já citamos em outra matéria.

Uma ideia que aqui propomos é um programa de incentivo a outras práticas esportivas, como judô, atletismo, basquete, boxe, entre outras, levando esses alunos a competições fora da cidade a fim de estimulá-los a continuar treinando, podendo manter a juventude engajada e longe das drogas.

“Poucos sabem da dimensão do esporte no combate às drogas em qualquer localidade. Já houve casos ao redor do mundo nos quais o narcotráfico foi erradicado por força de projetos que incentivavam a prática esportiva. Creio que a nossa cidade tem condições de criar projetos como esses, principalmente nas áreas mais carentes do município. O povoamento desses espaços dificulta o tráfico de drogas e garante segurança para as nossas crianças.”

– Flávio Basílio, conselheiro tutelar e educador físico

No futebol moderno, o que os treinadores mais pedem aos seus jogadores é que joguem próximos uns dos outros para que aconteçam as “triangulações” que fazem as jogadas acontecer.

Fora das quatro linhas, o campeonato tem um efeito semelhante: aproxima pessoas de diferentes faixas etárias, classes sociais, crenças e ideologias políticas, pois o que prevalece é o sorriso ao comemorar um gol do seu time – ou, claro, a angústia da derrota. A depressão e a fobia social dão lugar às imprescindíveis conexões humanas.

Não se enganem: o esporte não é apenas uma arma contra os inimigos que vemos a olho nu; muito pelo contrário, é um valioso recurso que, se bem administrado, pode amenizar o sofrimento de uma sociedade doente e aterrorizada pelos fantasmas da mente.

Exemplo disso é o que nos relatou este coribense que não quis se identificar, mas que se emocionou ao nos confessar sua relação com o campeonato:

“Não gosto de sair de casa. Para ser sincero, prefiro ficar só do que rodeado de pessoas. Mas, nos dias das partidas na praça, me sinto mais aliviado para sair e me enturmar com as pessoas, mesmo que eu saiba que continuarão me julgando. Ao menos nesses dias, eu consigo ser alguém e sorrir de verdade, o que é raridade na maioria dos dias do ano.”

Portanto, é de extrema importância que o campeonato seja observado não apenas pela engessada visão de quem serão os campeões, artilheiros, premiados, jogador revelação, melhor goleiro e rebaixados. Claro que isso é importante e faz parte do esporte.

No entanto, a competição pode ser deixada em segundo plano ao se perceber que há muita coisa em jogo que não é vista – e que precisa de atenção urgentemente. Afinal, o esporte pode ser um fundamental aliado na luta contra os problemas sociais e estruturais da cidade, tendo em vista que fortalece a economia, promove saúde mental, combate as drogas e cria laços sociais.

E tudo começa com o primeiro ‘passe’.

22 comentários sobre “Além das quatro linhas: o que não te contaram sobre o Campeonato de Futsal de Coribe

  1. Parabéns pelo lançamento, meu irmão! Que projeto incrível — é inspirador ver alguém trazendo conteúdo de qualidade sobre esportes com tanta dedicação. Que essa nova jornada seja cheia de conquistas, audiência fiel e muito sucesso. Tamo junto, sempre torcendo por você!

  2. É disso que o esporte precisa: gente com visão, paixão e coragem pra criar! Parabéns demais, meu velho! Que esse noticiário ganhe o mundo, porque conteúdo bom assim tem que ser visto!

  3. Além de ser um palco para muitas emoções vivida pelas torcidas , e ponto de encontro de amigos também ajuda a trazer renda pra a cidade ou distrito que recebe o campeonato sem contar com a descoberta de né novos talentos .

  4. Que matéria perfeita, demonstra a nossa realidade, nossas realizações, o que nos faz confraternizar com os amigos bons momentos, parabéns pela iniciativa, espero a próxima publicação.

  5. A responsabilidade de um governo é enorme quando se pensa grande, os secretários de esporte estão tentando com muito pouco apoio é preciso diversificar o esporte criando possibilidades não existe somente o futsal e o futebol na cidade de Coribe. Interessante seria adequar as modalidades esportivas com as dos jogos estudantis -jerp. Assim a cidade toda estaria em uma só sintonia.

  6. O esporte como um todo, independente da modalidade, consegue movimentar e parar o planeta, imagine a nossa bela Coribe? O esporte é capaz de trazer incontáveis benefícios a seus praticantes e patrocinadores e em nossa cidade não é diferente, e com o apoio das autoridades e pessoas dispostas a levar os nossos jovens e crianças a se interessarem pelo esporte só temos a ganhar. Por isso esse belo trabalho, uma matéria muito bem escrita pelo nosso jornalista João Vitor é bem vinda, pois vai fazer com que mais pessoas conheça o impacto que o esporte trás para nossa cidade.
    Parabéns João.

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